segunda-feira, 4 de junho de 2012


Sugestão de aula
África: um olhar contemporâneo
Objetivos
Analisar indicadores sociais e econômicos de países da África e avaliar perspectivas de combate à fome, pobreza e epidemias no continente
Conteúdos
África - saúde/HIV - política, economia e sociedade
Tempo estimado
Duas aulas

Introdução
Em depoimento recente, o romancista angolano José Eduardo Agualusa declarou que "a dissimulação do passado obscurece o futuro". A mensagem do escritor sugere um modo de abordar seu continente de origem, a África, sobre o qual nenhuma palavra parece ser definitiva. É o que mostra reportagem desta semana de VEJA, que destaca a atuação da entidade Médicos Sem Fronteiras (MSF) em países como Moçambique - com a importante participação de profissionais de saúde brasileiros.

O texto mostra o quadro dramático da Aids na África, com alto número de infectados - crianças, mulheres grávidas e adultos em plena fase produtiva - e as carências múltiplas do sistema de saúde de muitos países do continente. Ao mesmo tempo, percebe-se um sinal de avanço desses países, quando eles reconhecem os efeitos devastadores da doença e aceitam a ajuda internacional para controle, prevenção e diagnóstico.

A reportagem permite um olhar contemporâneo sobre o berço da civilização, onde hoje também prosperam iniciativas e investimentos em meio a um quadro de agudos dramas sociais. E permite a você dar duas aulas que convidam os alunos à reflexão sobre o tema, ao mesmo tempo em que faz aprofundar conhecimentos geográficos sobre o continente africano.

Atividades
1ª aula

Peça que os alunos leiam a reportagem Eles fazem diferença, publicada em VEJA. Em seguida, proponha que identifiquem no mapa apresentado na revista os países africanos com presença dos Médicos Sem Fronteiras (MSF). Diga para observarem, também, o gráfico com as motivações para intervenções da entidade: os conflitos, as guerras civis e as epidemias e endemias - estas duas últimas de modo evidente em países da África subsaariana.

Lance algumas questões para debate: quais causas históricas, geográficas e políticas ajudam a explicar esse dramático quadro social? Por que muitos países do continente não contam com estruturas adequadas para combater os problemas? Que perspectivas de futuro se apresentam para o continente, mergulhado em contradições mas, ao mesmo tempo, tão rico e diverso?

Informe aos alunos que, ao longo do tempo, a África foi pilhada, dividida e ocupada pelas potências europeias. Nos séculos 15 a 19, o continente foi marcado pelo comércio de escravos e a exploração das riquezas naturais; a partir do final do século 19, sofreu as consequências da fase neocolonialista, com a partilha do território. Explique que, nesta divisão, estão as raízes de muitos conflitos étnicos e guerras civis atuais, pois diferentes povos e culturas foram separados ou agregados arbitrariamente. Ressalte que as lutas anticolonialistas ao longo da segunda metade do século 20 resultaram na emancipação política da grande maioria dos países, mas arrasaram territórios, populações e instituições. Restou, também, a herança das fortes rivalidades étnicas cristalizada nas disputas pelo poder. Termine a aula dizendo que o esforço atual é o de superar déficits sociais e econômicos crônicos, de democracia e respeito aos direitos humanos.

2ª aula
Solicite que os estudantes examinem os mapas abaixo:
Mapa 1 - África: hostilidades à vida humana
 
Ilustração do mapa "África: hostilidades à vida humana", publicado em 2008 pela Ed. Ática. Ilustração Beto Uechi/Pingado.

 Mapa 2 - África: riquezas naturais - distribuição e apropriação

Ilustração do mapa "África: riquezas naturais - distribuição e apropriação", publicado em 2008 pela Ed. Ática. Ilustração Beto Uechi/Pingado.

Eles vão comprovar que a África é um continente com importantes riquezas minerais, em especial petróleo, gás natural e urânio, e grande desigualdade social. Os problemas mais graves estão na chamada África subsaariana, que concentra a maioria dos países e da população do continente. Chame a atenção para o chamado "Arco da fome", que envolve o Sahel - faixa semi-árida ao sul do Saara, onde estão doze países, entre eles Mauritânia, Níger, Nigéria, Chade, Sudão e Somália. Explique que muitas dessas nações não dispõem de estruturas estatais e políticas públicas consolidadas. Faltam, também, pessoas com formação necessária para enfrentar desafios sociais, econômicos e políticos - é o caso de Moçambique, mostrado na reportagem de VEJA.

Destaque que a situação é bastante diferente nos países do Magreb, no Egito, na Líbia e em Djibouti. Localizados na faixa setentrional, ao norte do Saara, essas nações islâmicas apresentam indicadores sociais e econômicos mais positivos.

Em seguida, peça que a turma leia e comente os trechos de reportagens abaixo:

Texto 1
A África ocupou a agenda do Conselho de Segurança da ONU em 2008: impasses políticos no Zimbábue, na República Democrática do Congo e no Quênia; e conflitos armados na Somália e no Sudão. Isso trouxe de volta a imagem de continente inviável, com estados falidos, guerras civis, genocídios tribais e baixo desempenho econômico. Mas a África não é tão simples nem homogênea.

Depois de 2001, sua economia ressurgiu. O crescimento médio, que era de 2,4% em 1990, chegou a 5,5% em 2008. Em países produtores de petróleo e minérios estratégicos, como Angola, Sudão e Mauritânia, as cifras foram ainda maiores. Hoje, a África é fronteira de expansão econômica e política da China e da Índia. EUA e União Européia - em especial, a Grã-Bretanha - não abandonaram suas posições estratégicas na região. Houve, em 2001, uma guinada na política africana dos EUA, agora voltada aos interesses energéticos no Chifre da África e Golfo da Guiné, e à criação de comando estratégico militar no nordeste africano. A Rússia assinou acordo econômico e militar com a Líbia e com a Nigéria sobre venda de armas e suprimento de gás para Europa, via o Saara e a Itália.
Fonte: FIORI, José Luís. Provavelmente, Deus não é africano. Le Monde Diplomatique Brasil, 24/04/2008. Disponível em: http://diplo.uol.com.br/2008-04,a2365 (com adaptações)
Texto 2
Graças a enormes reservas de petróleo, Angola vem sofrendo uma transformação radical. Isso sem falar em algumas jazidas de diamantes na fronteira com o Congo. Apenas seis anos depois de uma guerra civil de três décadas, a economia angolana é uma das que se expandem em ritmo mais acelerado, a taxas de 15% ao ano, as maiores do continente.

Fonte: Capitalismo angolano. Revista National Geographic Brasil, n. 108, março de 2009, p. 31 (com adaptações).
Ajude a turma a perceber os avanços econômicos da África e o ganho de importância do continente no cenário internacional. Ao lado de países ainda semi-destruídos, como a Somália, há outros que apresentam vigoroso crescimento econômico, como África do Sul, Angola e Sudão - apesar da crise de Darfur, em curso neste último. Isso vem despertando interesses de países emergentes e reforçando a posição geopolítica e estratégica das tradicionais potências mundiais no continente. Comente que o Brasil não está fora disso, haja vista os investimentos e aproximação com diversos países africanos, especialmente os lusófonos.

Para finalizar, retome a questão da Aids, apresentada em VEJA, e comente os graves índices do continente, bem como os avanços alcançados no combate à doença. Diga à turma que, segundo dados da ONU, quase 70% do total de infectados do planeta estão na África, algo em torno de 23 milhões de pessoas. No país mais modernizado e com o PIB mais elevado do continente, a África do Sul, a epidemia atinge pouco menos de 20% da população adulta. Durante muito tempo, neste país, foi negada a existência da epidemia, o que dificulta a aplicação de testes e diagnósticos.

Essa realidade está mudando. Relatório da Unaids, a agência da ONU para o combate à Aids, publicado no final de 2009, mostra que houve aumento nos testes de detecção em países como Botsuana, Lesoto e São Tomé e Príncipe. Hoje, Cabo Verde, Senegal e Níger apresentam taxa de incidência inferior a 1% entre adultos. Os esforços de prevenção e controle em Uganda resultaram em declínio da parcela de infectados, incluindo mulheres grávidas. Portanto, ainda há muito por fazer, mas podemos encontrar sinais positivos.

Com base nos dados e discussões, proponha aos estudantes uma dissertação sobre rumos e perspectivas para a África contemporânea. Nela, deverão considerar a parcela de responsabilidade dos governos e populações locais e também das nações mais ricas e desenvolvidas e das entidades de ajuda internacional.
Avaliação
Leve em conta a participação de cada estudante nas tarefas individuais e coletivas. Na dissertação, considere o domínio das noções, conceitos e processos em jogo e a construção de ideias e argumentos na discussão do tema. Reserve um tempo para que a turma avalie a experiência
Postado por Selma Marlí Trivellato


2 comentários:

  1. A proposta é muito boa e exige várias habilidades dos alunos, como interpretação e leitura dos mapas e contextualização da temática.

    ResponderExcluir